Casos de movimentações financeiras atípicas crescem em 2018

Nos primeiros cinco meses deste ano, houve um grande aumento de suspeitos de envolvimento em movimentações atípicas de recursos no Rio de Janeiro. Muitos carregaram cartões de crédito pré-pagos com dinheiro em espécie, como mostram relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda, obtidos pelo jornal “O Globo”.

De 1º de janeiro até o último dia 16, o órgão identificou 30.537 pessoas que realizaram transações fora do padrão, o que pode indicar a prática de operações de lavagem de dinheiro. O número é 7% maior que o registrado ao longo de todo o ano passado. Em 2017, 28.463 moradores do Estado foram parar na malha do Coaf por indícios de irregularidades.

O Fragoso Advogados atua em casos de crimes financeiros.

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Os resultados das análises do Coaf constam de Relatórios de Inteligência Financeira (RIF), que são enviados a promotores e à Secretaria de Segurança do Estado do Rio. Este ano, o conselho produziu 248 RIFs no Rio. Os documentos servem de base para a abertura de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

O Coaf não investiga, apenas detecta movimentações que apresentam indícios de irregularidades e encaminha a documentação para as autoridades competentes.

O número de operações atípicas de janeiro a maio já é quase sete vezes maior que o de 2013. Naquele ano, o Coaf citou 4.616 pessoas em 161 RIFs.

Segundo o diretor de Inteligência Financeira do conselho, Joaquim da Cunha Neto, todas as movimentações atípicas são rastreadas antes da elaboração dos relatórios, último passo para o repasse de informações aos órgãos de investigação. Ele frisa que somente autoridades policiais e do Ministério Público podem concluir se houve operação criminosa.

“Tecnicamente falando, nem todos os identificados em nossos relatórios podem ser considerados suspeitos. O que temos são operações em espécie e automáticas que chamam a atenção, e, por isso, são comunicadas pelo Coaf ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal”, afirma Cunha Neto.

Para ele, a disparada no número de responsáveis por transações sob suspeita está relacionada a um aumento incomum de carregamentos de cartões pré-pagos com dinheiro em espécie.

O Banco Central passou a regular essa modalidade de operação em 2013. Além de ser detectado nas análises do Coaf, o aumento das operações com cartões pré-pagos no Rio também consta de relatórios da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

No balanço da entidade, o salto foi grande: em 2016, houve a movimentação de R$ 3,9 bilhões; em 2017, R$ 6,6 bilhões (quase 70% de aumento).

Monitoramento

O Coaf monitora operações em diferentes setores, como loterias, cartões de crédito, lojas de joias e antiguidades, negociações de imóveis e mercados de seguros e previdência privada. Também acompanha movimentações bancárias e saques na boca do caixa. Muitas vezes, o conselho age a partir de informações passadas por instituições financeiras.

O levantamento que o Coaf fez no Rio identificou 71.433 operações bancárias que consistiram em retiradas de quantias a partir de R$ 50 mil em espécie. Cerca de nove mil delas entraram em relatórios como transações suspeitas.

De acordo com o conselho, os RIFs são produzidos quando resultados das análises indicam “a existência de fundados indícios de lavagem de dinheiro ou qualquer outro ilícito”.

Para o Coaf, é possível que o aumento de operações suspeitas no Rio tenha sido identificado por conta de uma maior capacitação de técnicos responsáveis pelas análises, melhorias das ferramentas de fiscalização, fortalecimento do intercâmbio de informações e crescente difusão de dados entre os vários setores financeiros, incluindo instituições internacionais.

Fonte: O Globo | Gustavo Azeredo / Agência O Globo